Straight Outta Compton: A História do N.W.A. CRÍTICA

Marcar Para Assistir Mais Tarde

Straight Outta Compton: A História do N.W.A. (2015) – CRÍTICA

Straight Outta Compton, dirigido por F. Gary Gray, é um filme biográfico que narra a ascensão e o impacto cultural do grupo de rap N.W.A., um dos mais influentes e controversos da história da música. O filme foca principalmente nos membros fundadores do grupo – Dr. Dre, Ice Cube e Eazy-E – e nos desafios que enfrentaram enquanto criavam sua música, que logo se tornaria um símbolo do movimento hip-hop, além de levantar questões sobre a injustiça racial nos Estados Unidos.

Enredo e Temáticas

O filme se passa nos anos 1980 e início dos anos 1990, época em que o N.W.A. transformou a cena musical americana com letras ousadas, críticas ao sistema e um estilo agressivo que refletia as dificuldades vividas pelos jovens afro-americanos em Compton, Califórnia. Straight Outta Compton não se limita a ser apenas um retrato musical, mas também se torna um estudo sobre as tensões raciais e sociais, o papel da música como forma de resistência e o impacto da mídia no movimento hip-hop.

A história segue o crescimento do N.W.A., desde os primeiros dias em que o grupo se formou, até seu sucesso mundial, passando pelas polêmicas que cercaram suas letras explícitas e as reações das autoridades, que viam no grupo uma ameaça à ordem pública. O filme destaca os desafios internos também, como disputas sobre dinheiro, lealdade e a trágica morte de Eazy-E.

O N.W.A. não só desafiou normas musicais, mas também sociais e políticas, abordando questões como a brutalidade policial, o racismo sistêmico e a desigualdade social. A música “F*** Tha Police”, por exemplo, se tornou um manifesto contra a repressão policial, algo que ainda ressoa na sociedade atual, tornando o filme uma cápsula do tempo essencial para entender o hip-hop como forma de protesto.

Direção e Roteiro

F. Gary Gray, conhecido por seu trabalho em filmes como Vingança a Sangue Frio (1996) e The Italian Job (2003), faz um trabalho impressionante ao capturar a energia crua e visceral do N.W.A., tanto em suas performances quanto em seus momentos mais íntimos. A direção de Gray coloca o espectador no centro do tumultuado e muitas vezes violento ambiente em que os membros do N.W.A. viveram, sem perder a humanidade dos personagens, especialmente durante seus momentos de crise e discórdia.

O roteiro, assinado por Jonathan Herman e Andrea Berloff, é eficaz ao equilibrar os aspectos pessoais e profissionais dos membros do N.W.A., e embora o filme se concentre mais nos principais membros, ele também dá espaço para personagens como o produtor Jerry Heller (interpretado por Paul Giamatti) e os co-fundadores do grupo. No entanto, o filme foi criticado por não aprofundar a história de forma igual para todos os membros, deixando algumas figuras como DJ Yella e MC Ren um pouco ofuscadas.

Atuação

As atuações dos protagonistas são um dos maiores destaques do filme. O’Shea Jackson Jr., filho de Ice Cube, interpreta seu pai com uma impressionante semelhança e entrega uma performance visceral, com uma excelente recriação da transformação de Ice Cube de jovem rebelde a um dos artistas mais respeitados do rap. Corey Hawkins (Dr. Dre) traz profundidade ao papel, mostrando o lado empresário e visionário de Dre, enquanto Jason Mitchell (Eazy-E) se destaca pela emotividade ao retratar a ascensão e a queda do rapper, trazendo à tona sua luta contra a AIDS, que eventualmente levaria à sua morte precoce.

O elenco de apoio também merece destaque, como Paul Giamatti, que interpreta Jerry Heller, o empresário que ajudou o grupo a alcançar o estrelato, mas cuja relação com os membros acabou se tornando tensa devido à exploração financeira e desentendimentos.

Aspectos Técnicos

A fotografia de Straight Outta Compton capta perfeitamente a atmosfera da época, com a recriação dos anos 80 e 90 sendo uma das mais autênticas já vistas no cinema. A cinematografia de Matthew Libatique também se destaca pela maneira como faz com que o espectador sinta a energia das ruas de Compton, ao mesmo tempo que ilustra a violência policial e os conflitos internos do grupo.

A trilha sonora, como era de se esperar, é um dos maiores pontos fortes do filme, repleto de clássicos do N.W.A. e outros artistas que influenciaram a era. A música é não apenas uma parte essencial do enredo, mas também um veículo emocional que dá contexto a muitas das cenas mais intensas, como a já mencionada “F*** Tha Police”.

Legado e Impacto Cultural

O filme também se destaca pela sua capacidade de contextualizar o impacto cultural do N.W.A. Não é apenas sobre a música, mas sobre como o grupo ajudou a dar voz aos marginalizados, especialmente à comunidade afro-americana. A maneira como Straight Outta Compton aborda temas de racismo, censura e liberdade de expressão ressoa fortemente com os tempos atuais, com o movimento Black Lives Matter e a crescente luta contra a brutalidade policial. O filme, portanto, serve como um lembrete do poder transformador da música e da arte.

Conclusão

Straight Outta Compton é um filme biográfico fascinante que não apenas revisita a história de um dos grupos mais importantes da música, mas também se torna uma reflexão sobre os desafios sociais e raciais dos Estados Unidos. O filme é visualmente deslumbrante, com performances marcantes e uma trilha sonora impecável. Ele oferece um retrato honesto e, às vezes, doloroso da vida no hip-hop e da luta por liberdade e justiça.

Porém, apesar de seu sucesso, o filme não deixa de ser criticado por simplificar certos aspectos da história e pela falta de desenvolvimento de alguns personagens secundários. Mesmo assim, sua relevância cultural e emocional é inegável, sendo uma obra essencial para quem deseja entender o impacto do N.W.A. na música e na sociedade.

Nota: 9/10